Após um ataque que deixou três índios Pataxó feridos, a Polícia Civil da Bahia iniciou nesta sexta-feira (24) uma investigação sobre um possível tráfico de drogas na aldeia de Barra Velha, em Porto Seguro.
O ataque ocorreu na noite de quarta-feira (22) e, segundo a polícia, o alvo era um índio identificado como Genilson, de 28 anos. Três homens armados foram até a casa dele, onde ficaram conversando por cerca de 10 minutos. Após desentendimento, o índio foi baleado na coxa esquerda e no bíceps.
Durante a apuração do caso, a Polícia Civil obteve informações de outros índios de que Genilson repassa drogas na aldeia de Barra Velha. “Se quisessem, tinham matado ele. Até então, não tínhamos informação de tráfico na aldeia, agora, com essa informação, vamos passar a investigar isso”, disse o delegado Moisés Damasceno, coordenador da 23ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Eunápolis), responsável pelas investigações.
No momento do ataque, um outro índio, identificado como Antônio, passava de moto perto da casa de Genilson e também foi baleado. “Os homens mandaram que ele [Antônio] parasse, mas ele continuou e deram mais tiros. Só um que pegou, e foi de raspão”, relatou o delegado, que ainda não conseguiu localizar Antônio para que ele preste depoimento.
Um terceiro índio ficou ferido. O homem, que não teve a identidade divulada, estava numa escola que fica perto da casa de Genilson e, ao ouvir os tiros, ficou assustado, pulou pela janela e, na queda, machucou a cabeça. Ele recebeu atendimento médico e passa bem, segundo o delegado.
Ainda de acordo com Moisés Damasceno, o índio Genilson preferiu não falar sobre o possível motivo pelo qual foi atacado, durante a conversa que teve com investigadores, ainda no Hospital Luís Eduardo Magalhães, em Porto Seguro, para onde foi levado depois que recebeu os tiros. O indígena já teve alta e não foi localizado pela reportagem.
Dos três homens que realizaram os ataques, ao menos um deles já foi identificado pela polícia e está sendo procurado. O cacique Suruy, liderança em Barra Velha, disse que os índios foram confundidos e negou que ocorra tráfico na aldeia. “Por nossa comunidade ser aberta, a beira mar, infelizmente esses caras chegaram aí e confundiram essas pessoas com traficantes. Mas nenhum deles tem envolvimento com tráfico de drogas, eles foram confundidos”, afirmou.
A aldeia de Barra Velha fica nas proximidades do povoado de Caraíva, muito frequentado por turistas, principalmente da região do Sudeste do país. O local é famoso pela calmaria – não são permitidos o trânsito de veículos e a energia elétrica chegou há poucos anos.
O CORREIO entrou em contato com a Fundação Nacional do Índio (Funai) para comentar o caso, mas não obteve resposta.
BRIGA NA JUSTIÇA
No extremo sul da Bahia, há cerca de 10 mil índios Pataxó em 22 comunidades indígenas. A aldeia de Barra Velha é considerada “aldeia mãe” (a origem remonta a 1767) e está em processo de regularização do território por parte da Funai e do Ministério da Justiça.
A terra indígena foi demarcada pela Funai com 8,6 mil hectares em 1991, mas ações de fazendeiros e dos próprios índios, que desejam que a terra seja demarcada com 52 mil hectares, levaram o caso para o Superior Tribunal de Justiça (STJ).
No final de março deste ano, o STJ julgou a favor dos pataxós quatro mandatos de segurança que tentavam impedir que a Funai ampliasse a demarcação do território que, conforme a decisão, “excluiu dos limites da terra áreas de mangue e grande parte da mata do Monte Pascoal – o que demonstra vício insanável no processo originário de delimitação do território”.
“Os elementos de prova acostados aos autos indicam a existência de esbulho territorial praticado contra os índios pataxós desde o período pré-colonial, a ocorrência de disputas fundiárias na região, a sobreposição de terra indígena sobre áreas de proteção ambiental, bem como de vícios administrativos que autorizam a revisão dos limites da terra indígena”, afirmou o relator, ministro Gurgel de Faria, ao garantir a continuidade do processo de revisão demarcatória.